sábado, 27 de novembro de 2010

Analematiquemo-nos

Como funciona um Relógio de Sol?
















Este, cuja imagem aqui deixo, é um analemático.
Analema é uma linha curva, fechada, resultante da união de vários pontos correspondentes à extremidade da sombra de um objecto, em diferentes horas do dia, ao longo do ano. O observador colocará os pés sobre o traço correspondente ao mês em que fizer a observação, para que a sua sombra atinja uma escala em que estão marcadas as horas, podendo assim registar o momento da sua experiência.
O Analema evidencia ainda as diferentes alturas atingidas pelo Sol e os desvios da hora solar ao longo do ano, factos que na abordagem de temas relacionados com as estações do ano e a medição do tempo podem servir para relacionar áreas diversas da Astronomia.
No Centro de Ciência Viva de Constância podemos visitar um.
Analematiquemo-nos, pois, ao ar livre, porque dá saúde, bronzeia e torna-nos pontuais.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

The Museum of Broken Relationships




Idealizado por um ex-casal Croata, este sugestivo museu em Zagreb, Croácia, funciona como um espaço de "memória segura" onde se exibem objectos que catalizam emoções e tentam preservar o património de memórias e vivências de relações que falharam.
O museu oferece uma maneira criativa de sublimar e de recuperar do colapso emocional : contribuindo para a colecção do museu.

Os meus filmes


Paths of Glory, Stanley Kubrick, 1957

1ª Guerra Mundial e La Lys

No decorrer da 1ª Guerra Mundial, há 93 anos, em 26 de Novembro de 1917, a Segunda Divisão do Corpo Expedicionário Português juntava-se ao Sector Português na frente de batalha, na Flandres.
Durante a Batalha de La Lys, que duraria entre 9 e 29 de Abril de 1918, o exército português sofreu cerca de 7.000 baixas. Muitas famílias, de luto, viriam a celebrar em dor as exéquias fúnebres na Igreja de São Nicolau, em Lisboa.
O meu avô paterno, que lá esteve, regressou vivo à sua terra. Só assim pude também eu existir.
Deixo aqui hoje imagens de alguns momentos marcantes dessa nossa história no mundo.
E a minha homenagem aos que não conseguiram voltar.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Do Conectoma ao Sinaptosoma: uma história épica



Um dos maiores desafios das neurociências é o de decifrar o esquema estrutural do cérebro. O termo Conectoma foi recentemente proposto para referir a mais avançada matriz de conexões organizadas do cérebro humano. No entanto, definir como flui a informação através de um sistema tão complexo representa uma tarefa tão difícil que parece pouco provável que seja alcançada num futuro próximo ou, para os mais cépticos, talvez nunca. Os diagramas dos circuitos do sistema nervoso podem ser considerados a diferentes níveis mas são certamente impossíveis de completar ao nível sináptico. Não obstante, avanços na nossa capacidade para relacionar informações macro e microscópicas pode ajudar a estabelecer um modelo estatístico realista capaz de descrever a conectividade ao nível ultraestrutural, o Sinaptosoma, dando-nos razões para estar optimistas.

Com um brilho de lantejoulas

Neste dia, há 165 anos, nascia Eça de Queiróz.

Dizia que "Nada há de mais ruidoso, e que mais vivamente se saracoteie com um brilho de lantejoulas - do que a política. Por toda essa antiga Europa real, se vêem multidões de politiquetes e de politicões enflorados, emplumados, atordoadores, cacarejando infernalmente, de crista alta. Mas concebes tu a possibilidade de daqui a cinquenta anos, quando se estiverem erguendo estátuas a Zola, alguém se lembre dos Ferry, dos Clemenceau, dos Cánovas, dos Brigth? Podes-me tu dizer quem eram os ministros do império em 1856, há apenas trinta anos, quando Gustave Flaubert escrevia «Madame Bovary»? Para o saber precisas desenterrar e esgaravatar com repugnância velhos jornais bolorentos: e achados os nomes nunca verdadeiramente poderás diferenciar o sujeito Baroche do sujeito Troplong: mas de «Madame Bovary» sabes a vida toda, e as paixões e os tédios, e a cadelinha que a seguia, e o vestido que punha quando partia à quinta-feira na «Hirondelle» para ir encontrar Léon a Rouen! Bismarck todo-poderoso, que é chanceler e de ferro, daqui a duzentos anos será, sob a ferrugem que o há-de cobrir, uma dessas figuras de Estado que dormem nos arquivos e que pertencem só à erudição histórica: o papa Leão XIII, tão grande, tão presente, que até as crianças lhe sabem de cor o sorriso fino, não será mais, na longa fila dos papas, que uma vaga tiara com um número; mas duzentos anos passarão, e mil - e o nome, a figura, e a vida de certo homem que não governou a Alemanha nem a Cristandade, estará tão fresca e rebrilhante como hoje na memória grata dos homens."

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Aprender

Esta foi a obra que valeu a Gonçalo M. Tavares o Prémio do Melhor Livro Estrangeiro publicado em França em 2010.

Big Bang Big Boom

A evolução e as suas consequências...
Uma animação da BLU, de 2010

blublu.org

domingo, 21 de novembro de 2010

“Deixem passar o Homem Invisível”

Num dia de chuva torrencial, um cego e uma criança escorregam para dentro de um enorme buraco, aberto pela torrente de água e sedimento, no chão de Lisboa. Este é o incidente que dá início ao romance de Rui Cardoso Martins, “Deixem passar o Homem Invisível” (2009, D. Quixote), distinguido com o Grande Prémio de Romance e Novela Associação Portuguesa de Escritores/Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas.
Obra literária de grande sensibilidade e lucidez, este livro conta a história do encontro inesperado entre as duas personagens referidas nas entranhas de Lisboa, da sua luta entre a vida e a morte lá em baixo, e da luta dos outros, amigos e autoridades, pela sobrevivência deles cá em cima e de como o “humano” se revela perante este confronto fundamental.
"Há truques que até parecem milagre, até conhecermos o seu segredo. Viver não é magia nem milagre, mas às vezes temos que acreditar" Rui C. Martins

Como referência fica apenas que este autor foi o fundador das Produções Fictícias, co-criador e autor de Contra-informação.

Por ter valido a pena, recomendo vivamente!

domingo, 14 de novembro de 2010

Paolo Uccello


"Retrato de mulher", 1450 e " Jovem mulher da moda" (A Young Lady of Fashion), 1464; Encontram-se ambos em museus em NY

Não por acaso, estive a fazer uma recolha de obras da História da Pintura e não pude deixar de partilhar, aqui, duas obras-primas desse periodo tão profícuo que foi o "Quattrocento" italiano.
De Paolo Uccello (Florença,1397 - Florença, 1475), mestre da composição, da utilização do claro escuro e um dos precursores da perspectiva científica.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

São Martinho de Tours


Por ser hoje o seu dia, deixo aqui uma representação de São Martinho,  num detalhe do fresco dedicado à sua vida, na Igreja de São Francisco de Assis, pelo mestre Simone Martini, no séc. XIV.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Real Onírico

Coloco hoje uma fotografia de Ansel Adams, do Yosemite Valley, Clearing Winterstorm (1942)

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Plasmodium Falciparum é o protozoário parasita


Cientistas portugueses andam às voltas com o mosquito Anopheles, responsável pela Malária, e a Fundação Bill e Melinda Gates patrocina a descoberta de uma vacina.
Os parabéns à equipa de investigadores portugueses.

Poema em linha recta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cómico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e erróneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Álvaro de Campos

in "Fernando Pessoa - Obra Poética", José Aguilar Editora - Rio de Janeiro, 1972

Alex Katz, The Cocktail Party, 1965

domingo, 7 de novembro de 2010

No Dragão

FC Porto - Benfica, a cores, é o jogo de futebol agendado para hoje, pelas 20h15m, com transmissões visuais, áudio e audiovisuais, no televisor, na telefonia, ou em tudo isto via Internet.
A Percepção do Mundo assiste com algum interesse a este evento social-desportivo, na expectativa de que haja muitos golos, de bela geometria.
Amanhã regressa Segunda-Feira e, ao que parece, o país está em Saldos e a presidência chinesa veio às compras.
Bom jogo!

sábado, 6 de novembro de 2010

Lavava y sospirava


Lavava y sospirava - canção anónima sefardirta interpretada por Hesperion XXI, voz de Montserrat Figueras

O Livro de Como se Fazen as Cores

A presença hebraica em Portugal traduziu-se, entre outras coisas, no enriquecimento da língua Portuguesa. A nossa língua, interpretada pelas comunidades judaicas e transportada pela diáspora como parte determinante da sua identidade cultural, acabaria por ser usada, tanto no dia-a-dia como no culto religioso, em casa, nas ruas e nas sinagogas do Velho Mundo e do Novo Mundo.
Assim nasceu e se espalhou o judeo-português, que, infelizmente, se viria a extinguir, na primeira metade do século passado, mercê da diminuição do peso relativo das comunidades sefarditas no conjunto das comunidades judaicas, da integração dos judeus nas sociedades nacionais e, por último, das perseguições sofridas nos anos 30 e 40 do século passado.
A obra que aqui se apresenta é um manuscrito técnico em língua judeo-portuguesa. O seu autor é desconhecido (talvez Abraham ben Judah Ibn Hayyim) e encontra-se, actualmente, na Biblioteca Palatina de Parma. Desconhece-se a data em que foi redigido (século XIII para uns, para outros o XV). O título condensa o objectivo do autor: fazer uma obra que ensinasse a produzir cores.
Caso pretendam consultar, recomendo que sigam esta hiperligação:
http://www.jmrg.org/strolovitch/disspage/4.pdf


Ai Weiwei Sunflower Seeds

Numa altura em que o mundo anda às avessas com as suas sobrevivências financeiras nacionais e/ou globais, Ai Weiwei compreende a importância que a arte pode e deve ter para a revitalização das economias locais e a criação de postos de trabalho. A sua instalação Sunflower Seeds, de milhões de sementes de girassol cerâmicas de tamanho natural (verdadeiramente únicas), na Tate, é de se ter muito em conta.
Pela proposta cultural que significa mas sobretudo pelo que de humanista encerra na sua acção.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Sugestão cinematográfica

I'm Still Here, de Casey Affleck. A ver, hoje às 21h30 no Estoril Film Festival.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A Propósito do Festival da Memória Sefardita

«Os Hebreus não são servos das Nações, mas sim uma República à parte que vive e se governa com as suas Leis e preceitos que Deus lhe deu no Sinai»

Realiza~se, por estes primeiros dias de Novembro, o primeiro Festival da Memória Sefardita, uma iniciativa que decorre nas cidades de Belmonte, Trancoso e Guarda. Nas breves linhas que se seguem, tentarei responder à questão que o nome do festival introduz, que é a de saber em que consiste essa «memória sefardita». Fá-lo-ei através de uma viagem pela biografia do Doutor Fernando Isaac Cardoso, médico e filósofo, um nome grande do pensamento hebraico.

Reinava D. Filipe I de Portugal quando, cerca de 1603 ou 1604, nasceu em Trancoso (?), de uma família de cristãos-novos, Fernando Isaac Cardoso. Aí viveu até perto dos 10 anos, altura em que a família se mudou para Medina del Rioseco, ali, entre Valhadolid e Palência.

Estudou, na sua juventude, Artes e Medicina.na Universidade de Salamanca, mas foi em Valhadolid que obteve a licenciatura, passando a ocupar a cátedra de Filosofia da sua universidade (1624). No ano seguinte, obteve graus de Medicina na mesma universidade.

Encontramo-lo em Madrid, por volta de 1630. Nessa cidade publicou o seu primeiro, ainda que pouco inspirado poema. No ano seguinte, 1631, veria editado o Discurso Sobre el Monte Vesubio, obra em que se descreviam as erupções do vulcão e os seus efeitos.

Não cabe, aqui, referir todas as obras por si redigidas, mas os títulos revelam-nos um homem de largos horizontes: Panegírico y excelência del Color Verde (...), Oración Fúnebre (pela morte do seu amigo Lope de Vega), Utilidades del Água i de la Nieve, del Beber Frio y del Beber Caliente (o seu primeiro e belo tratado de medicina), De febre Syncopalí, Sí el parto de 13 a 14 meses es natural i legítimo,

A sua fama como médico era, por esses anos, enorme, tornando-o presença assídua nas casas dos grandes de Espanha. Em 1640, foi nomeado médico real de D. Filipe IV de Espanha e III de Portugal. Fama imensa: dele se dizia ser capaz de curar qualquer doença. Mas fama de pouca dura, todavia, já que a restauração da independência de Portugal, e o seu judaísmo secreto o levaram a deixar Espanha, talvez por recear as represálias que a sua condição de cristão-novo português pudesse desencadear. Dirige-se, assim, a terras italianas, onde encontrará abrigo na cidade de Veneza.

Teria cerca de 65 anos de idade quando escreveu a obra Philosophia Libera, um vasto, de sete volumes, tratado filosófico que sintetizava a sua visão do Mundo e de Deus (Diós, é o título do seu sétimo volume). Nela se defende, igualmente, a primazia judaica na obra filosófica, como se pode ler nesta passagem «com o envelhecimento das ciências entre os Hebreus, começam os primeiros balbucios entre os Gregos».

Um pouco mais tarde escreveu aquela que foi a sua última obra De Las Excelências de los Hebreos, obra de exaltação das qualidades da nação judaica, que viria s ser publicada em Amesterdão, na tipografia de David de Castro.

Morreu em Verona, em Outubro de 1683, tendo a sua obra entrado num injusto esquecimento, do qual só agora começa a ser resgatado.

A vida de Isaac Cardoso, judeu sefardita (natural de Sefarad, palavra hebraica que passou a designar a Península Ibérica) reúne em si os elementos necessários à compreensão da «memória sefardita». Em primeiro lugar, um sentimento de identidade ancestral bebido da sua família cristã-nova (família judaica forçada a converter-se ao catolicismo no reinado de D. Manuel I), sentimento que levou Cardoso a considerar-se parte do povo de Israel. Em segundo lugar a dupla identidade que só a prática escondida da religião de Moisés, como contraponto ao catolicismo forçado, supõe (Isaac Cardoso foi, durante muitos anos, um Marrano, um anusim). Vem, em terceiro lugar a emigração como possibilidade de libertação e regresso a uma prática judaica caracterizada pelo rigor ( o que, no seu caso, o levaria a romper com o seu irmão Abraham Cardoso, seguidor de Sabbataï Zevi) . Surge-nos, em seguida, a língua espanhola, usada nas suas obras como língua de cultura, a indiciar uma fortíssima ligação à Ibéria natal. Vem, por último, a constatação de que a sobrevivência do povo judaico dependia de um conjunto de factores tão diversos e mutáveis que só a constituição de enormes e complexas redes transnacionais de relações entre comunidades hebraicas poderia auxiliar. Entre a casa e o Mundo, os Judeus sefarditas construíram um cosmopolitismo fortemente ancorado na sua identidade religiosa e nacional, talvez um modelo percursor dos tempos que são os nossos. Escrevia Isaac Cardoso na Excelência de los Hebreos «(Os Hebreus ) São peregrinos que Deus espalhou pelo Mundo para ensinar aos gentios o conhecimento de Deus e dar testemunho da Sua Unidade».
Texto de Nuno Matos

Obras consultadas:
Notas Sobre la Vida y la Obra de Fernando Henrique Cardoso, Garzón, Jacobo Israel, Hebraica Ediciones, 2003
Isaac Cardoso, Vida Obra, Pensamento, Rosa, José Maria, in Lusosofia, Biblioteca Online de Filosofia, http://www.lusosofia.net/