sexta-feira, 6 de maio de 2011

Perda de Humanidade

























Homem de Vitrúvio, Leonardo da VInci (c. 1490)

Por me parecer interessante ser lido, transcrevo para A Percepção um artigo do jornal Público de hoje, sobre as opções feitas pelos actuais alunos portugueses e as respectivas escolhas de áreas de ensino:

João Valsassina não sabe dizer com exactidão mas calcula que é há sete ou oito anos que o seu colégio — o Valsassina, em Lisboa — já não abre a área de Línguas e Humanidades, por falta de alunos interessados. “Cheguei a ter duas turmas nessa área e no espaço de dez, quinze anos, passámos dessas duas turmas para a fuga total. Quanto muito temos dois, três alunos, que querem ir para Direito.” E nem vale a pena perguntar, porque é evidente — ninguém fala em ir para Literatura, Filosofia, História. “É um vazio assustador”, confirma o director.
E assim, neste momento, o Valsassina tem entre 67 e 70 por cento dos alunos na área de Ciências e Tecnologias, e, bastante mais abaixo na escala, alunos em Ciências Sócio-Económicas e Artes Visuais. “Tem tudo a ver com a empregabilidade”, constata. Em muitos casos são os pais que tentam convencer os filhos de que o melhor é estudar numa área que dê acesso a cursos como Medicina ou Engenharia. Antes ainda havia muitos interessados em ir para Direito, mas “a ideia que se começou a difundir de que há uma grande saturação nessa área, tal como na Arquitectura, leva os pais a dizerem aos filhos ‘não vás para aí, não tem saída’”.
Helena Lopes conhece bem essa conversa — não da parte dos pais, mas dos próprios professores e enfim... de quase toda a gente. “O meu interesse pela História começou cedo, mas terá sido com 14 anos que decidi que iria estudar História no futuro”, conta. “A vocação já estava lá adormecida desde criança, mas foi despertada por um professor que tive no 8.º e 9.º ano que nos mandava fazer trabalhos de pesquisa e transmitia a ideia de que a História não eram apenas datas de batalhas e nomes de reis, mas abrangia outras áreas, como a música, a literatura ou a pintura.”
Quando teve de escolher o agrupamento, Helena não tinha dúvidas. “Mas foi aí que comecei a ouvir os primeiros avisos”, recorda. “Como era muito boa aluna a todas as disciplinas, os meus professores de Matemática, por exemplo, não compreendiam porque queria seguir esse beco sem saída das Humanidades — ainda para mais nem era para estudar Direito. Na altura ouvi frases como ‘querer seguir História é como querer acabar a lavar escadas de um prédio’ ou ‘não faça esse erro, vai-se arrepender.”
Esta reportagem de Alexandra Prado Coelho pode ser lida na íntegra na edição de domingo, 8 de Maio, da revista Pública, à venda com o jornal PÚBLICO e/ou na edição para asssinantes "online".

Sem comentários:

Enviar um comentário